Se você não sabe o que exatamente significa cutelaria, não se assuste. Uma legião de brasileiros ainda desconhece a palavra. Apesar de o termo cutelaria ser pouco utilizado, ele começa a aparecer com maior freqüência, inclusive fora dos círculos especializados. Resumindo, cutelaria é a arte de fabricar instrumentos de corte. A palavra cutelo – instrumento cortante semicircular de ferro – vem do latim cultellu (faquinha), de onde provém também a palavra cutela, faca larga para cortar carne.
As facas fazem parte da história do homem e não é possível imaginar o desenvolvimento de nossa raça e a sua sobrevivência sem elas. No paleolítico inferior, há 2.500.000 anos, na Tanzânia e na Etiópia já existiam as primitivas facas feitas de lascas de pedra. Com elas foram feitas as pontas das lanças de madeira, foi cortado o couro para as roupas e foram produzidos utensílios destinados à defesa e ao abrigo. Podemos dizer que o que diferenciou o homem dos macacos foi, sem dúvida o fato de que um descobriu a faca e dominou o fogo e o outro não. Um longo período passou até que se chegasse a dominar o primeiro metal, na Idade do Bronze, que vai de 2000 a 700 a.C. Já o ferro passou a ter uso generalizado depois do ano 1000 a.C. Apesar de já ser conhecido muito tempo antes, a tecnologia de sua utilização era muito rudimentar e só depois da colonização romana, por meio das suas legiões, é que a técnica de forjar este metal tornou-se popular. A siderurgia teve um nascimento místico do qual fez parte o ferreiro, que é o pai do cuteleiro. A palavra mais antiga para denominar ferro é an bar, de origem suméria, e designa respectivamente “Céu e Fogo”, traduzida por “metal celeste” ou “metal estrela”
Muitos séculos antes do ferro ser domesticado pelos ferreiros e extraído das minas, ele era utilizado de forma ritual e mágica para produzir amuletos e facas para sacerdotes e reis, já que era proveniente de meteoritos, um fenômeno considerado sagrado desde a remota antiguidade. A origem da palavra siderurgia vem de sideral, exatamente porque o ferro vinha de meteoritos. Era considerado sagrado, como um presente dos deuses aos homens, ou melhor, aos reis e sacerdotes.
Os meteoros eram chamados de “pedra dos raios” ou “machados de Deus” e tinham a conotação viril de penetrar a terra e fecundá-la além de serem considerados armas de Deus. Os esquimós da Groenlândia faziam suas facas de meteoritos, martelando-os com pedra, como se o ferro também fosse um tipo de pedra, pois não conheciam a metalurgia. Quando Cortés, o conquistador espanhol, perguntou aos chefes astecas de onde obtinham suas facas, eles lhe apontaram o céu.
O ferro de meteoro era usado pelos Maias e pelos Incas e, até muito recentemente, pelos Malaios e Indonésios para a produção de uma arma que ainda hoje faz parte da indumentária (especialmente nas festas) daquele arquipélago: o Kris é uma faca com lâmina ondulada, como uma espada flamejante maçônica, que lembra uma serpente.
As facas rituais são também usadas pelos Tibetanos, sendo mais conhecidos dois modelos: um de lâmina larga, usado para “tirar a pele do ego” e outro com um ponta triangular, como se fosse uma ponta de flecha, que é conhecido como “Purbhu”. Esta faca tem na sua parte superior um objeto chamado “Vajra” ou “Doreje” que quer dizer raio ou diamante. Vemos, mais uma vez, o aparecimento da ligação sideral ou sagrada entre o objeto que corta, separa o bem do mal, símbolo da consciência discriminadora.
Nos dias de hoje as facas são classificadas basicamente em utilitárias e esportivas, mas poderíamos mencionar ainda: facas de arremesso, decorativas, de cozinha, de caça, de bota, facas militares, de sobrevivência e canivetes (que na verdade são facas pequenas), entre outras. As espadas são um desenvolvimento natural das facas. Sendo maiores podiam manter o inimigo a uma distância maior e mais segura. Hoje são usadas quase que exclusivamente em competições esportivas e cerimônias militares ou maçônicas.
Falar em espadas e não mencionar as Katanás, espadas samurais seria um descuido. As espadas, consideradas a alma do guerreiro, eram e são feitas por espadeiros com técnicas secretas e passadas de pai para filho desde a idade média. Os espadeiros japoneses são considerados patrimônios culturais vivos do Japão.
Em pleno século XXI, os espadeiros mantém o mesmo método de fabricação artesanal. Com o fim dos Samurais, deixaram de produzir espadas para fazer facas. Houve uma época em que faltava matéria-prima, por isso foi inventada a técnica de juntar o ferro, que é mais barato, com o aço.A faca é um objeto de desejo no mundo dos amantes de sashimi. O Mercado de Tsukiji de Tóquio, situado no centro da capital japonesa, é o maior mercado de peixes do mundo. Ali estão localizados mais de 900 pontos de comércio, sendo que algumas lojas são especializadas em facas. Nestas lojas, estão disponíveis mais de 400 modelos para quem busca o corte perfeito. Uma faca para se cortar o atum, pode chegar a custar até R$ 20 mil.
Um atum azul que chega a 50 quilos pode custar até R$ 300 mil. O atum é tão importante para a economia do Japão, que os japoneses passaram a criar o animal em enormes tanques na costa sul do país para evitar a extinção da espécies. Só no mercado de Tóquio, são leiloados 2 mil atuns diariamente.
A diferença básica para uma arma é que a espada tinha fio dos dois lados. Uma faca para se cortar o atum, pode chegar a custar até R$ 20 mil. Uma tradição nascida na guerra e que acaba na mesa. A arte de se produzir o aço conhecido na antiguidade como damasco nasceu, com desenhos esculpidos na própria liga de metal, como fibras de madeira. Esta forma de produzir aço especial tem origem na Índia e foi divulgada ao mundo cristão pelos árabes, nas cruzadas, daí “damasco”. No Brasil, alguns cuteleiros já produzem tal preciosidade, sendo com ela confeccionadas as facas mais caras do mercado nacional e internacional.
Outra novidade nos remete a Idade da Pedra: literalmente, a pedra voltou! As novas facas feitas de cerâmicas de alta tecnologia são novidade no mercado. Elas são produzidas com micro-cristais e óxidos metálicos, comprimidos e vitrificados em altas temperaturas. O macaco que inventou a faca chegou, enfim, a recriar a pedra para fazer a faca do século 21.
Resultado da pesquisa
Todos os entrevistados desconhecem a o significado da palavra cutelaria, porém todos os japoneses possuem algum grau de conhecimento sobre o assunto e utilizam pelo menos dois tipos de faca no seu cotidiano no Brasil, o sashimi boutyou ( faca para cortar sashimi ) e o santoku boutyou ( faca para utilidade geral ). De todos os entrevistados descendentes de japoneses, 80% têm algum conhecimento da cutelaria japonesa. Por fim, 3/5 utilizam pelo menos um item da cutelaria japonesa no seu cotidiano e os outros 2/5 dos descendentes de japoneses se satisfazem com a cutelaria brasileira.
Curiosidades
Site de vendas de espadas katana
Passo a passo da construção de uma faca tradicional da cutelaria japonesa
6. Fundição do aço, Forjar o aço, Laminação
- Colocar no forno a mais de 1000 graus
- Polir uma face
- No meio do ferro e aço
- Colocar em contato com fogo de 900 graus, batendo com o martelo uni-se dois tipos de metais

7. Reaplicação no fogo, Recozimento do aço, Definir a forma
- Deixar no formato da faca
- Colocar novamente no forno, para eliminar as irregularidades, resfriar na cinza de palha
- Com a máquina cortar somente a parte importante
- Definir a curvatura da lamina
- Definir e desgastar a parte de trás da faca
8. Colocar para queimar, Queimar novamente, Retirar as imperfeições
- Resfriar rapidamente a lamina com lama, para queimar bem
- Colocar no forno a 800 graus
- Colocar na água de uma vez, e mexer de um lado para o outro
- Depois da queima da faca a dureza é HRC60, surgem os defeitos . conserta-se os defeitos

9.Esmerilhar, Polir, Gravação do nome, Finalizar o produto
- Lixar usando esmeril com agua
- Polir usando um disco do tipo feltro para eliminar os riscos
- Polir usando um disco de madeira, para dar mais brilho a lamina
- Afiar a lamina
- Colocar o nome do fabricante na lamina
- Colocar empunhadura e outros adornos
- Produto finalizado
Fonte : Sociedade Brasileira dos Cuteleiros
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